
História
A história do Fusca é uma das mais complexas e longas da história do
automóvel. Diferente da maioria dos outros carros, o projeto do Fusca
envolveu várias empresas e até mesmo o governo de seu país, e levaria à
fundação de uma fábrica inteira de automóveis no processo. Alguns pontos
são obscuros ou mal documentados, já que o projeto inicialmente não
teria tal importância histórica, e certos detalhes perderam-se com a
devastação causada pela Segunda Guerra Mundial. Grande parte dessa história pode ser condensada como se segue:
O "Volksauto"
No início da década de 1931 a Alemanha era assolada por uma dura recessão, e tinha um dos piores índices de motorização da Europa.
A maioria de suas fábricas era especializada em carros de luxo,
montados à mão, e ainda muito caros. Por isso, e mais uma série de
fatores, a ideia de um carro pequeno, econômico e fácil de produzir
começou a ganhar popularidade. Era o conceito do "Volks Auto" - ou
"Volks Wagen", expressões alemãs que traduzem a ideia do "carro
popular".
Desde 1925 um conceito básico muito semelhante ao que viria ser o Fusca já existia, obra do engenheiro Béla Barényi
(famoso projetista, responsável por várias melhorias de segurança
passiva). Nos anos seguintes vários protótipos e modelos surgiam, como o
Superior, da firma Standard, projetado pelo húngaro Joseph Ganz - este modelo inclusive era relativamente barato, cerca de 1500 marcos.
Até mesmo fora da Alemanha a ideia ganhava forma, com os aerodinâmicos Tatras ganhando as ruas da então Tchecoslováquia
- carros estes que o próprio Hitler conhecia e admirava. Aerodinâmicos,
resistentes e bonitos, possuíam motor traseiro refrigerado a ar,
chassis com tubo central e eram obra do engenheiro austríaco 'Hanz
Ledwinka, um conterrâneo e amigo do futuro projetista do Fusca.
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O Tatra 87, que seria rapidamente descontinuado em favor do Fusca, assim que a Alemanha invadiu a Tchecoslováquia.
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Logo assim que montou seu escritório ele recebeu uma encomenda da Wanderer (parte da Auto Union, atualmente Audi)
para uma linha de sedãs de luxo. Apesar da proposta, o projeto
resultante (que recebeu o n° 7, para dar a impressão de não ser o
primeiro) era já um pouco semelhante no design ao Fusca.
Os primeiros protótipos
O prazo para desenvolver o projeto era exíguo, apenas seis meses. Em dezembro de 1934 o número de protótipos encomendados passou para 3, de acordo com a filosofia de Porsche. Embora o prazo fosse curto, Porsche temia desagradar Hitler, e portanto, em 1935, dois modelos ainda um tanto rústicos estavam prontos. Com fundo de madeira e motores dois tempos de 850cc, os modelos eram um sedan de carroceria fechada - chamado Versuch 1 (V1), ou "Protótipo 1" - e um conversível, V2, feito para agradar o Führer, entusiasta por conversíveis.Em 12 de outubro de 1936 os dois pré-protótipos, mais um com carroceria em aço (que somado a outros dois em aço, construídos com a ajuda da Daimler-Benz, formariam a Série W30) foram entregues à RDA para os testes (dois dos carros contavam com o motor que acabaria sendo escolhido para o Fusca). Em três meses cada um deles rodou 50 mil quilômetros, enfrentando os piores terrenos, durante uma rotina de testes seis dias por semana. Para satisfação de Porsche, o relatório final da RDA aprovava o projeto. Os problemas ficaram apenas no freio, que ainda era a varão, e o virabrequim (girabrequim), que quebrava com frequência.
Após testes tão completos, a estrutura do carro ficaria praticamente
concluída, faltando apenas acertar os detalhes da carroceria. Em 1936-37 Porsche havia viajado para os Estados Unidos, onde pôde acompanhar os processos de fabricação em série. De lá ele trouxe alemães habituados a trabalhar em Detroit,
que o ajudariam a viabilizar a fabricação em massa do projeto. Contando
com essa ajuda, Erwin Komenda pôde então trabalhar na forma final do
carro. Ele fez então uma maquete
de pré-produção, em madeira e tamanho natural. Dentre as mudanças mais
visíveis estão as janelas traseiras bi-partidas (incorporadas em 1937
pela Reutter), a tampa do motor e do capô, e as portas com abertura
normal, além dos estribos (os modelos de teste ficavam muito sujos nas
estradas mais precárias). Com a finalização do projeto, máquinas e ferramentas foram também
trazidas dos EUA. Cerca de quarenta e quatro modelos em metal dessa nova
série (VW38/39) foram então fabricados, para altos executivos e para
fins de propaganda e exibição.
Paralelo a isso, a Tatra,
fabricante dos T77 e T87 na Tchecoslováquia, vinha desenvolvendo carros
semelhantes ao Fusca desde 1932 (protótipo V570). Hitler era um
admirador dos velozes carros, e certa vez comentou: "Estes são os carros
para minhas autobahns". Coincidentemente ou não Porsche conhecia
Hanz Ledwinka, o projetista dos Tatras. Com a finalização dos testes do
Fusca e sua iminente entrada em produção, a Tatra foi forçada pelas
forças de ocupação alemãs a desistir do projeto T97 (praticamente igual
ao protótipo VW30)
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